domingo, 28 de fevereiro de 2010

Homesick

Eu vi neve. Eu vi aqueles bairros de gente rica cheio de árvores, bosques. Casas que a gente só vê em filmes. Gansos andando do lado da rua. Eu vi prédios extraordinários, construções magníficas. Nada parecido com o que existe no Brasil. Tudo isso em uma semana. É tudo muito novo e tudo muito lindo.

Mas eu não senti gelo na barriga, não tive vontade de chorar, ou me enchi de emoção. Acho que o choque da mudança me fez ficar com saudade do meu país. E mesmo que a gente precise de grandes muros e portões nas casas, ou que não neve, o Brasil ainda parece melhor pra mim.

Uma menina brasileira que eu conheci aqui disse que estava com medo de se desencantar com o Brasil. Eu não. Eu tenho medo de me desencantar com os EUA.

Brenda

Camaradagem brasileira

Em quase cinco horas, eu atravessei quatro estados americanos. E graças a Deus eu não estava sozinha, porque, por incrível que pareça, eu consigo ser mais desastrada nos EUA. E isso pode soar engraçado, mas se você estiver num trem cheio de americanos que não se importam se você é estrangeira e ainda não entende como funcionam as coisas por aqui, e começar a derrubar as suas malas extremamente pesadas, eles vão ficar irritados.

A senhora do bilhete pode ser um pouco grossa por causa do seu excesso de bagagem. E você, já um pouco mais emotiva do que o normal, sentir vontade de enfiar a cabeça no chão, ou pular da janela do trem. Até que você escuta em português claro e nítido "Deixa que eu levo essa sua mala, não fica preocupada..."

Várias brasileiras juntas podem ser barulhentas, escandalosas, e até passam dos limites... Mas elas são, com certeza, as melhores do mundo (e eu tenho 99 meninas de 20 países diferentes para servir de comparação).

Se não fossem as brasileiras, meus primeiros quatro dias aqui teriam sido difíceis!

Brenda

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Até ano que vem, Brasil

Sinto-me como se meu carrinho estivesse alcançando o topo da primeira decida da montanha-russa. Dá um frio na barriga e a ideia de que não tem mais volta. Basta respirar fundo e esperar os segundos até a queda. Pode ser bem assustador, mas eu adoro essa sensação. E mesmo que me cause medo e me exija sempre uma boa dose de coragem, no fim do percurso, eu estou em êxtase.

É assim que me sinto sobre a minha viagem de amanhã. O medo do desconhecido. Apenas algumas horas me separam do que está por vir, o frio já se apossou da minha barriga, e eu sei que tem um longo percurso pela frente. Mas a sensação maior é de excitação.

Chegou a hora da queda.

Meu voo sai de São Paulo de manhãzinha. Devo chegar em Nova York no fim da tarde. Eu e todas as meninas do mundo que viajarão para os EUA nesta mesma data ficaremos em um hotel em Stamford por quatro dias para orientações e palestras sobre o intercâmbio.

Então, no nosso quarto dia na América, viajaremos cada uma para a casa de sua host family, que pode ser em qualquer lugar do país – a minha mora na Virginia. E é aí que nossa nova rotina começa.

Este é meu último dia do ano no Brasil. Volto a escrever quando estiver na terra do Tio Sam.

Brenda

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Não há nada sem separação

Longe de mim ser pessimista ou duvidar de que essa viagem vai ser uma grande experiência, mas já está enraizado em mim o hábito de pensar nos prós e contras de todas as grandes decisões que eu tomo na minha vida. As vantagens dessa vez são mais óbvias, já que penso nelas desde o dia em que botei na minha cabeça que iria morar em outro país.

Mas agora que a viagem está muito próxima - e o nervosismo começa a dar sinais de vida -, os contras estão mais claros. Não me entenda mal, eles são insignificantes comparados a minha ansiedade e animação. Servem, apenas, para me manter ciente do que me espera. A preocupação, na medida certa, nos deixa cautelosos.

No momento, me preparo para enfrentar os seguintes desafios: viajar para outro país pela primeira vez; passar mais de uma semana longe da minha família pela primeira vez; não conhecer ninguém onde eu vou morar; e sair de um calor de 30°, para um inverno de -2° (detalhe: eu odeio frio).

Mas a pior parte será o momento de me despedir da minha família (incluindo a Amelie, minha cachorra). Saudades eu sei que vou sentir e nem é isso que me preocupa. Despedidas são o que me preocupam. Saber que aquele momento no aeroporto será o último em que eu vou vê-los durante um ano. O último abraço que vou receber. E não há preparação que acalente alguém para uma coisa dessas.

Meu amigo Rodrigo me escreveu num e-mail que "despedidas são só formas de esperar sem culpa pelo reencontro". Vou aproveitar, então, meu ano de 2010 ao máximo, enquanto espero pelo reencontro em 2011, tendo como única culpa a de realizar esse sonho longe das pessoas que eu mais amo.

Brenda

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A arte de fazer as malas

Toda mulher que se preze reclama que não tem o que vestir. É claro que tem, mas a impressão é de que todas as opções no guarda-roupa são inapropriadas para a ocasião. Não queremos uma roupa que já tenha sido usada pelo menos cinco vezes, ou que vai nos fazer sentir gordas, ou então não vamos encontrar um sapato para usar com a opção escolhida. Depende, também, do humor e da auto-estima momentânea.

Parece tudo uma frescura, mas não adianta criticar. É sempre assim. Mesmo com mais de 50 pares de sapato e um guarda-roupa cheio, roupa NUNCA é demais.

Agora imagine uma mulher que precisa selecionar peças do vestuário suficientes para caber em apenas DUAS malas. Mais do que isso, as roupas escolhidas deverão ser usadas durante um ano inteiro. É necessário pensar em todas as opções, escolher peças chaves que combinem com tudo para o inverno e para o verão, e ainda lembrar-se de levar cachecóis, tocas e luvas – quase nunca usados aqui, mas totalmente necessários se não quiser morrer de frio no outro país.

Obviamente que essa tarefa vai se transformar num dilema estressante, o guarda-roupa vai ser revirado, as malas vão ser abarrotadas de coisas até ser necessário sentar nelas para conseguir fechá-las, e a mulher vai ter a sensação de que não coube nem metade do que queria levar.

O único consolo é pensar na possibilidade de super promoções nas lojas de lá!

Brenda

PS: Desculpem-me, mas o meu guardarroupa ainda é guarda-roupa!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Babá?

- E agora que acabou a faculdade, o que pretende fazer?
- Vou passar um ano nos Estados Unidos!
- Noooossa! Que legal!!!! O que você vai fazer lá?
- Trabalhar e estudar.
- Trabalhar de quê?
- Vou ser au pair. Já ouviu falar sobre o programa de au pairs?
- Não... O que é isso?
- Bom, eu vou morar com uma família americana, cuidar das crianças delas durante o dia, e ela vai me pagar uma bolsa de estudos.
- Ah, legal... Então você vai ser babá...
- Uhum!
-Hum...

Perdi a conta de quantas vezes eu tive esse diálogo. Desconhecidos, amigos, e até mesmo familiares ficavam empolgados ao ouvir "vou passar um ano nos Estados Unidos", mas devolviam um muxoxo desacreditado quando ouviam "cuidar das crianças". Não posso culpá-las, porque já fui responsável pelas mesmas reações uma vez.

A verdade é que eu tinha preconceito com esse tipo de intercâmbio e agora pago pela minha boca. Para que o mesmo não aconteça com desconhecidos/amigos/familiares, explico o que significa ser au pair.

Au Pair In America é uma agência britânica que trabalha em parceria com agências de intercâmbio do mundo todo selecionando meninas para serem au pair nos EUA (o processo de seleção é extenso e pode ser assunto de outro post). Eu fui orientada pela Experimento, de Campinas.

Vou morar na casa de uma família americana, minha host family, e deverei ser recebida como parte dela. Devo vivenciar a cultura americana, participar de eventos familiares e fazer minhas refeições com eles. Serei babá das crianças da família e receberei um salário semanal. Além disso, a minha host family deve pagar uma bolsa de estudos e eu posso escolher entre diversas opções de cursos disponíveis pela APIA. Estudar durante a estadia nos EUA é uma obrigação do intercâmbio de au pair.

Uma espécie de psicóloga/conselheira – counsellor -, contratada pela APIA, é responsável pelo grupo de au pairs – cluster - da região. Ela organiza um evento mensal entre as meninas (seja um jogo de baseball, patinação no gelo, palestras, etc), e reuniões periódicas individuais para acompanhar o processo de adaptação de cada uma.

É lógico que ser babá é a parte mais importante e de grande responsabilidade no programa – e eu estou ansiosa para conhecer meus host brothers. No entanto, não me esqueço o que a gerente da Experimento disso na palestra, em julho: "Ninguém entra no programa de au pair porque o sonho é ser babá ou porque quer ser especialista em cuidar de crianças. Mas se a sua vontade é aperfeiçoar o inglês, viver fora, conhecer outra cultura, criar novas amizades... Ser au pair é uma oportunidade para realizar tudo isso".

Brenda

PS: A expressão "au pair" é francesa e, ao pé da letra, significa "ao par".

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

One week to go

A criação desse blog foi o resultado de uma sucessão de oportunidades aproveitadas. Eu finalmente ter dado atenção aquele anúncio roxo da agência de intercâmbio espalhado pela faculdade, em julho. A palestra sobre o intercâmbio agendada para a semana seguinte de eu ter descoberto a agência. O apoio dos meus pais. O último semestre da minha faculdade de jornalismo. O meu dinheiro guardado. A incerteza sobre 2010.

Interligados, estes fatos me impulsionaram para o que eu definiria como a realização de um dos meus maiores sonhos. Morar fora. Num país novo e desafiador para mim. Vou viver nos EUA durante um ano.

Foi uma longa caminhada até agora. O processo para entrar no programa de intercâmbio e planejar a viagem é demorado, e se ainda estivesse incerta teria desistido durante esses últimos seis meses. Mas agora, com meu visto concedido, minha permissão internacional para dirigir, e uma semana para partir, eu atingi o que sempre me faltou para criar um blog: um propósito.

A ideia principal é manter um registro da minha viagem e escrever sobre alguns dos acontecimentos que me fizeram chegar a esse resultado. Espero mantê-los entretidos nas minhas aventuras e desventuras. Se se interessarem em me acompanhar, agradeço desde já.

Brenda