segunda-feira, 24 de maio de 2010

Três meses

A única certeza do meu terceiro mês é de que nada é certo. De tempo em tempo, eu vou ter uma sensação diferente sobre a vida aqui. Uma hora eu tenho várias amigas brasileiras, pra ligar, conversar, sair todo fim de semana. Na outra, metade delas já precisa voltar pro Brasil.

Em alguns dias, a ficha cai e eu nem consigo acreditar que eu realmente moro nos EUA. Sinto-me parte daqui, como se estar nesse país fosse destino. Como se falar inglês já fizesse parte de mim e eu pertencesse a essa cultura. E eu consigo me ver vivendo aqui por dois anos, sem problemas. Por outro lado, tem horas que a realidade - de que eu estou longe de tudo e de todos - aparece sem dó, e a sensação predominante é solidão.

Talvez, a única certeza seja a de que eu nunca mais vou ser a mesma. Eu não tenho nada certo para quando eu voltar daqui e a minha vida no Brasil ainda é um grande ponto de interrogação. Mas não vai ser nunca mais o que costumava ser. As vezes, me bate uma vergonha doída da vida fácil que levava. Eu precisei mudar de país para ter cara de pegar o carro e dirigir mais de meia hora sozinha, sendo que, antes, eu tinha medo de dirigir de Santa Bárbara d'Oeste até Campinas. Não consigo acreditar como eu nunca tive coragem de pegar um ônibus para ir para São Paulo com medo de me perder, e ser capaz de pegar carro/metrô/ônibus de Washington DC até Nova York. É claro que me perdi, mas quem tem boca não vai a Roma? E, para agravar, pedir e receber informação só em inglês.

É preciso sair do casúlo para aprender a viver de verdade. São detalhes como esses que fazem perceber o quão covardes a rotina nos transforma. É necessário uma mudança drástica para fugir do cômodo.

E é claro, para finalizar as mudanças ocorridas durante meu terceiro mês, nenhuma experiência em outro país estaria completa sem a presença de uma figura masculina local. Um toque de seriado teen americano na minha estadia. Sem futuro, no entanto.

Sábio é Gregório de Mattos: firmeza somente na inconstância.

Brenda