terça-feira, 29 de março de 2011

My first entry-level English student


O menino mais velho que cuido tem cinco anos e como qualquer criança no Pré está em processo de alfabetização. Desde que começamos a praticar letras juntos, todas as manhãs, há alguns meses, ele progrediu absurdamente na leitura, e por consequência, na escrita.

A professora da escolinha manda na mochila, toda sexta-feira, dois livros que devem ser lidos em casa. Até então, os escolhidos por ela eram para principiantes, com muita repetição de sight words (palavras mais simples e comuns no vocabulário inglês que devem ser logo memorizadas), poucas mudanças nos finais das sentenças, e que podiam ser obviamente lidos apenas observando as figuras.

Adotei na nossa rotina, um momento para sentarmos no sofá, com um menino de cada lado, e lermos juntos os livros. O mais velho leria a primeira vez; e a segunda eu leria, fazendo perguntas e tentando incluir o pequeno, de três anos, na atividade.

Na última sexta-feira (26), no entanto, os livros na mochila vieram com um bilhetinho da professora (foto). O mais velho passou para o próximo nível de leitura e está preparado para novos desafios literários. E a au pair aqui quase morreu de orgulho.

terça-feira, 22 de março de 2011

Um ano e um mês


Depois de percorrer um looping completo no ano e começar a repetir os meses, o número 13 me trouxe sorte e uma experiência inédita nos EUA. O melhor ocorrido no meu 13° mês de intercâmbio - e uma das melhores desde que cheguei - foi, com a licença de Hannah Montana, misturar um pouco dos meus dois mundos. Recebi a visita relâmpago de duas primas na minha casa na Virginia. A visita foi quase uma prova de amor de prima: cinco horas dentro de um ônibus de Nova York a Washington DC na quinta e mais cinco horas na volta na sexta, sem nem completar um dia pelas bandas de cá.

Procurei aproveitar o pouco tempo que tínhamos para mostrá-las o máximo do lugar em que vivo. Apresentá-las à minha realidade e rotina desses treze meses. A casa, a família americana, os pequenos, a vizinhança, biblioteca, shopping, laguinho, Dunkin Donuts, cinema... Quase um tour mesmo. Passava de carro e apontava os lugares. Como eu previa, elas se apaixonaram pelos meninos que eu cuido. E quem não se apaixonaria?

Na sexta (12), viajei para NY com elas para encontrar meus tios/padrinhos. Como é bom rever parte da família, um pedacinho de casa. Fui recebida com um abraço enorme e apertado da minha tia, quase de mãe, como não recebia há mais de um ano. E pela primeira vez em NY, fiquei no aconchego e hospitalidade de um hotel de verdade. Bem diferente dos outros finais de semana, que tiveram mais cara de mochilão, esse teve sensação de viagem em família - mesmo eu estando de gaiato na viagem a serviço deles.

Conheci o bairro Soho, almoçamos e jantamos em diferentes restaurantes, e colocamos em dia o papo e as fofocas acumulados nesse ano que passamos distantes. Sábado a noite, assistimos ao musical da Broadway "Rain: A Tribute to the Beatles", que é maravilhoso.

E o domingo chegou rapidinho, pra que me forçasse a mais uma despedida. E o coração revoltou-se comigo: "Quanto mais você vai me forçar a aguentar?". Falta pouco, coração, e vai rever a todos sem precisar se despedir logo em seguida. No entanto, senti um gostinho do que será me despedir dos meninos. Sexta, ao me ver sair de mala com minhas primas brasileiras, o pequeno me abraçou e me pedia pra ficar. Acredito que imaginou que eu estava voltando para o Brasil com elas. E me partiu o coração. Nas cinco horas de ócio dentro do ônibus, na ida, inevitavelmente imaginei como vai ser ter de deixar esses pequenos e não ve-los mais todos os dias. Com certeza, a coisa mais triste que já fiz na vida... Foi no 13° mês que a ideia de voltar me causou um leve desespero. A sensação de "ainda não".


Mas, de volta a Virginia e a rotina de au pair... Para a minha felicidade, começou o Daylight Savings Time (o nosso horário de verão) e a PRIMAVERA. As árvores já estão carregando de flores e o tempo esquentando. Já era tempo!

terça-feira, 8 de março de 2011

Biscoito ou bolacha?

Uma situação que aconteceu comigo há uns dois meses que ilustra bem as diferenças sutis que eu tanto adoro entre os estados brasileiros em cultura, vocabulário e sotaque.

Brasileira 1: Vocês estavam na balada?
Brasileiro 1: Estávamos!
Brasileira 2: Nossa, nem vimos vocês.
Brasileiro 1: De que parte do Brasil vocês são?
Brasileiro 2: É claro que elas são paulistas! Elas falam "balada"!
Brasileira 2: Por quê? O que vocês falam?
Brasileiro 1: Noitada!
Brasileira 2: Ah, cariocas! Mas o seu sotaque nem é tão carregado. Fala "mesmo"!
Brasileiro 2: MeSSSmo.
Brasileira 2: Haha! Aí sim.
Brasileira 1: Vocês falam biscoito ou bolacha?
Brasileiros 1 e 2: Bolacha? HAHAHAHA!
Brasileiro 1: Biscoito, lógico.

sábado, 5 de março de 2011

Let it snow


Agora que dei uma volta completa no ano e nas estações, e estou revendo o clima dos Estados Unidos da mesma forma de que cheguei aqui, não me espanta que tenha ficado um tanto deprê nas primeiras semanas. O frio já bastaria. Eu odeio frio. Mas o visual de fevereiro é melancólico, cinzento, nebuloso. Nos dias que antecedem a neve, chega a ser até um tanto sombrio. O céu fica inteiro branco gelo, sem nuvem nenhuma.

O inverno de verdade pode ser bem incômodo. A bolsa ganha um peso a mais porque passa a ser obrigada a carregar luvas, toca, cachecol (e sendo au pair, deve multiplicar isso pelo número de crianças que cuida), e perde alguns minutos a mais no dia colocando todos esses acessórios (em você e nas crianças) toda vez que vai sair de casa.

As casas e todos os lugares fechados têm aquecedores. Os carros também, inclusive aquecedores de assento. O problema é o caminho lugar/carro/lugar. Precisei, uma noite, ficar mais de 15 minutos numa temperatura de -10°C e é extremamente doloroso. Em certo ponto, o corpo, amortecido, já não sente mais nada. Ou não se sente mais o corpo. E em todas as vezes que eu precisei fazer esse caminho, me passava a mesma coisa na cabeça: "Como é que alguém consegue se acostumar a viver em qualquer país do mundo que tenha um inverno como esse?".

No começo do ano passado, só vi a neve suja. A que resta da última tempestade (e foram muitas de 2009 pra 2010, alguns dias antes de me mudar) e demora pra derreter nos poucos dias de sol. Em dezembro, no entanto, eu vi a única de todas as razões possíveis pra se acostumar com o inverno de verdade: a neve. Aquela branquinha que cai em flocos que parecem purpurina no sol. Foi a coisa mais linda que eu já vi na vida. E foi na quantidade perfeita, uma ou outra, de leve. Uma só tempestade. O suficiente pra ver, tocar, provar, brincar de guerra, fazer anjo, boneco, forte, cavar a garagem e a calçada. Mas sem ficar presa em casa ou sem poder dirigir, sem acidentes.

A menos de 20 dias da primavera, não verei mais neve esse ano. Mas o frio já vai tarde.

terça-feira, 1 de março de 2011

Conversa nonsense que au pair é obrigada a ouvir

Sentados na mesa do almoço.

Pequeno: I can carry a car.
Grande: I can carry a truck.
Pequeno: I can carry a whole house.
Grande: I can beat you.
Pequeno: I can break you.
Brenda: Baby, I can break you down. There's so many ways to love ya... (*singing*)
Grande: I can carry a planet.
Pequeno: I can carry a whole house.
Brenda: Sorry, honey. But a planet is bigger than a whole house.
Grande: I can carry the whole outer space!
Pequeno:...
Brenda: Yeah... I don't think you can find something bigger than that...

E voltamos a comer.

Pronunciation and Converse

No último sábado (26), assisti à uma aula de Teaching Pronunciation como parte dos créditos que preciso para meu semestre extra no programa de Au Pair. O curso de sete horas (das 9h às 16h) na Northern Virginia Community College, a Nova, foi mais interessante do que imaginava. No entanto, foi quase um balde de água fria no meu inglês falado: há muito em pronúncia que ainda precisa ser aperfeiçoado. Detalhinhos que só são percebidos na prática, lendo em voz alta e sendo corrigida.

Aprendi que pronuncio quase todos os verbos regulares no passado de forma errada. Alguns soam com apenas um /t/ mudo, uns com /d/, e apenas alguns poucos devem ser ditos com o /ed/ de forma clara, como eu costumava usar em todos.

A professora, uma senhora beirando os 60, insistia em dizer que brasileros quando falam em inglês "comem" o fim das palavras. Como era uma aula pra aprender a ensinar pronunciação, ela estranhou quando nos viu (eu e mais duas amigas, de longe as mais novas entre os alunos) entrar na sala. "Vocês não parecem que são professoras, então eu acredito que sejam au pairs, estou certa? Vocês estão cientes que essa é uma aula para aprender a ensinar ESL (English as a Second Language) e não para aprender a falar em inglês, né?" Sim, querida, nós sabemos.

No próximo sábado tem mais sete horas de aulas, mas com tema diferente: Strategies for Teaching Entry-Level Students.

Sonho consumista de colecionadora


No domingo (27), colocamos em prática um dos nossos planos mais esperados (lê-se quando todas tivessem dinheiro sobrando pra gastar): ida ao outlet da Converse.

Um fato importante para a compreensão do que isso significa. Nunca liguei para marcas e nunca gastaria o preço absurdo que se paga em tênis de Nike, Adidas ou whatever. Mas eu tenho a-do-ra-ção por All Star. Gosto tanto que, aos poucos, desde 2002 (ano do meu par de All Star mais velho), criei minha própria coleção, que no último final de semana aumentou em dois números. Sem brincadeira, eu perdi a conta. Mas acredito que já passa de 20 pares.

Convenhamos, nenhuma coleção é sensata. Um ajuntamento desnecessário de diferentes modelos de objetos nem sempre úteis pra alguma coisa. Colecionar pares da Converse, no entanto, é bem mais interessante que manter [insira qualquer coisa comum colecionável] numa caixa ou prateleira. E não importa o que me digam, nunca é demais.

Aí, junte minha adoração pela marca e uma sale no outlet, de dois pares por $40, e tenha como resultado algo semelhante a uma criança de olhos brilhando dentro de uma loja de brinquedos. Saí com o anseio consumista saciado momentaneamente, com planos de dar mais umas passadinhas na wonderland antes de voltar pro Brasil.