domingo, 22 de agosto de 2010

Seis meses


Meio ano. Metade do caminho. Para comemorar a data, um prego resolveu se atarracar no pneu traseiro do meu carro. Precisei ligar pros pais americanos irem me socorrer, esperando por quase uma hora na cidade do lado da minha. Para manter o costume, Ana Paula estava comigo. Chegamos juntas aqui e comemoramos juntas - dentro do carro inabilitado embaixo de um sol infernal - os seis meses na terra do tio Sam. Com a gente, a nova au pair húngara que completou 24 anos (pelo horário na Hungria) enquanto esperávamos pela ajuda mecânica. Que situação!

Time goes by so fast

As vezes parece que passou tão rápido, as vezes parece que estou aqui há uma eternidade. Certas coisas são tão fáceis de acostumar. Sempre me pego pensando em situações e conversas que me aconteceram no Brasil, antes de me mudar, como se tivessem sido em inglês. Parei de converter mentalmente o dólar pro real antes de comprar algo. Quando voltar, terei de reaprender a dirigir um carro manual, e a cama de solteiro vai parecer pequena depois de passar um ano dormindo numa queen size. O arroz e o feijão, tão simplezinhos, me fazem muita falta. O closet já tem coisas suficientes pra umas três malas.

Half way done. Seria o momento pra fechar pra balanço. Lembrar dos bons e maus momentos, o que me motiva e desmotiva. Pesar os prós e contras de ficar mais um ano. Sim, eu preciso tomar essa decisão o quanto antes possível. Vai ser a decisão mais difícil da minha vida.

Enquanto não preciso dar a resposta, aproveito como se não houvesse amanhã.

domingo, 15 de agosto de 2010

It's all about the music, baby

Sempre acreditei que dinheiro gasto em shows é dinheiro bem gasto. É uma das coisas mais sensacionais do mundo. Pulo, grito, canto junto, pareço louca. No dia seguinte, minhas canelas doem e eu não tenho voz, mas minha alma está lavada. E tenho a sorte de poder dizer que já vi quase todas as minhas bandas preferidas ao vivo.

Cada show que consegui ir no Brasil foi uma vitória. Os ingressos estão cada vez mais caros, e ainda precisei arranjar transporte já que não dirijo até São Paulo, uma hora e meia longe da minha cidade. Mas cada um deles significou um sonho realizado. Vi Backstreet Boys aos 12 anos no auge do meu vício por boy bands. Linkin Park aos 15.

O melhor dia da minha vida: show do U2 aos 17. Eu e meus tios fomos pra São Paulo de manhãzinha, conseguimos comprar ingressos de cambistas enquanto esperávamos na fila. Entramos no Morumbi e descobrimos que a Hot Area estava aberta. Assistimos ao show na grade do palco, vi o Bono Vox a um metro de distância. Inacreditável! Ah, e com Franz Ferdinand como banda de abertura (antes mesmo de eu virar fã deles). Coisa básica.


Aos 19, consegui ir ver The Used, - uma banda de Utah, EUA, que quase ninguém conhece pela qual fui um tanto viciada - em São Bernardo do Campo. Foi uma luta achar com quem e como ir, uma vez que todo mundo que eu conhecia não sabia sobre a banda ou simplesmente não gostava nadinha deles. Aliás, foi um choque saber que iriam tocar no Brasil, no ABC Pró HC. Lembro que saí gritando que nem doida pela casa quando li sobre o show na internet.


Em 2008, vi o Iron Maiden pela primeira vez, no estádio Palestra Itália, com a família toda. Essa é uma das bandas preferidas do meu pai, cresci escutando o som deles. No mesmo ano, consegui, finalmente, - depois de mais de quatro vindas deles pro Brasil - ver The Calling, em Campinas. Na verdade, era quase o show solo do Alex Band, mas valeu muito a pena, com direito a foto e CD autografado.


EUA

Pelas bandas de cá, consegui assistir a quatro shows até agora: Pearl Jam, Iron Maiden, Kings of Leon e Maroon 5. A diferença entre assistir a um show no Brasil e um aqui é bem gritante. Pra começar, eu consigo ir dirigindo, já que a local de shows é a 20 minutos da minha casa, e os ingressos são bem mais baratos. As pessoas chegam no lugar sempre na hora marcada e é na hora marcada que o show vai começar. Fui no mesmo lugar pra assistir aos quatro shows, Jiffy Lube, e mesmo no gargarejo, as pessoas tem cadeiras pra sentar. Não existe aperto, empurra-empurra, briga por lugar perto do palco... No quesito organização, é uma lavada!

No entanto, é um tanto entediante. Se você está nas cadeiras mais pro fundo do lugar, não pode levantar pra assistir ao show, porque um sem graça atrás de você pode te pedir pra sentar. Afinal, se tem cadeira, é pra assistir sentado. As pessoas não pulam ou gritam como no Brasil. (Simplesmente não me entra na cabeça como alguém pode ver um show SENTADO!!!!). E se estão em pé, eles dançam.

Já ouvi o Bruce Dickinson pedir "Scream for me, São Paulo" e "Scream for me, Washington D.C." e não há como negar que a resposta no Brasil foi bem mais animada. A platéia acompanha cada solo de guitarra da banda com um coro de "Ôooo". Aqui, nada.

No show do Pearl Jam - o primeiro que eu fui nos EUA - comecei a pular e cantar junto e consegui sentir olhares virando pra mim. Com certeza, pensaram que eu estava bêbada, mas não, esse é o jeito que eu sei curtir um show. Aqui, parece tudo muito formal. Não é a toa que os artistas gostam de se apresentar no Brasil. É uma loucura.

Fan service

Uma menina uma vez me ensinou a expressão "fan service": coisas que os integrantes da banda fazem durante o show só pelo entretenimento da platéia. Vi um fan service em plena forma no show do The Used, quando o vocalista, Bert, beijou o guitarrista, Quinn, na boca. São gestos, brincadeiras, piadas com a única intenção de deixar os fãs loucos.
Adam Levine, vocalista do Maroon 5, é master nessa arte. É um front man completo daqueles que conversam com as fãs das primeiras fileiras, faz piada do nada, separa a platéia em duas partes e pede pra cantarem frases separadas da música. Extremamente carismático (e sexy, diga-se de passagem). Ele é o Maroon 5. Uma única coisa que me implica nessa banda é a mesma em relação a Nickelback: são muito comuns. As músicas são feitas na receita certa pra tocar na rádio e grudar na cabeça e é isso. Não é nada que se sobressai e vai ficar pra sempre. Não quer dizer que eu não curta o som deles, só realmente acho comum.

Ao contrário de Kings of Leon nas duas formas: eles têm um som bem único mas não são nada carismáticos. A única frase que eu lembro de ouvir o Caleb Followill dizer durante todo o show foi "Are you ready to sing?" antes de começarem a tocar "Sex on Fire". Mas não tem como negar que foi um dos melhores shows que eu já vi. Tudo combina perfeitamente, até mesmo o distanciamento deles com a platéia. Parece que você está assistindo a uma sessão de jam deles, meio como um intruso. Estão ali pra tocar pelo gosto que eles têm por isso e é só. Uma palavra para definir a banda e a música que fazem: sexy. Simples assim.

Independente do lugar, os shows que eu fui foram algumas das melhores experiências que eu já vivenciei.

PS: Dream Theater abriu o show do Iron Maiden nos EUA; Owl City abriu o do Maroon 5. As fotos e os vídeos linkados nesse post são dos shows que eu fui. Minha voz está misturada na gritaria!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Era uma casa muito engraçada...


As casas americanas são quase como blocos de montar. As paredes são de madeira e vem pré-preparadas, só colocá-las de pé. Exatamente como é mostrado no Extreme Makeover Home Edition. Eu acreditava que aquilo era feito porque o programa tem exatamente sete dias para reconstruir uma casa. Mas não. Todas são daquele jeito. Paredes de um material fino e aparentemente tão inseguro. Ouve-se cada passo no andar de cima.

As casas de bairro de classe média são todas sobrados e ainda têm o basement, que seria, ao pé da letra, o porão, mas na verdade é um andar inteiro embaixo da casa. Todas com ar condicionado e aquecedor, e carpete no chão. As cozinhas têm sempre ilha no meio, lava louças, forno elétrico separado do fogão, geladeira de duas portas com dispenser de água e gelo. Todas elas têm o quarto da laundry, o que seria a lavanderia, com máquina de lavar e secar roupas - que saem quentinhas e supostamente sem vincos. Não se passa roupas. E não existe tanquinho, aquele pra se esfregar roupa na mão ou colocar de molho.

As casas não têm muros nem portões. Uma menina de cinco anos que uma amiga cuida, quando veio em casa, perguntou por que nós precisamos de cerca no quintal se não temos cachorros. Uma dúvida sensata pra quem está acostumada a abrir a porta dos fundos e dar de cara com o quintal do vizinho. Mas com a piscina aqui de casa, uma cerca meia-boca era o mínimo de privacidade que se pode conseguir. Além disso, a casa é toda cheia de janelas enormes, cortinas abertas. Quando cheguei, me sentia exposta!

A expressão "A grama do vizinho é sempre mais verde" deve ter sido inventada aqui. É uma disputa de quem tem o jardim mais bonito, com gramado cortado meticulosamente, uma vez por semana. Pode ter o tanto de flores que quiser, que nenhum vândalo vai passar e arrancar. Pode largar brinquedos espalhados na frente da casa, carro estacionado na rua, que vão amanhecer no mesmo lugar. Mesmo assim, todas as casas têm sistema de alarme.

Caminhar na rua, quando não se conhece bem o bairro, é pedir pra se perder. As casas parecem todas iguais. Para agravar, além de sinuosa, a mesma rua tem dois nomes, um sentido west outro sentido east (ou south e north).

Quando se acostuma com a falta de privacidade e em dar de cara com vizinho toda vez que sai pro quintal, é até bonito ver todas as casas enormes, sem aqueles muros altos as separando. Tenho até receio de me sentir muito emparedada quando voltar pro Brasil.